sábado, 14 de junho de 2008

Uma excelente aula de como devemos tratar nossos semelhantes


ENTREVISTA EMOCIONANTE - PSICÓLOGO GARI

'A moral e os costumes que dão cor à vida, têm muito maior importância doque as leis, que são apenas umas das suas manifestações. A lei toca-nos porcertos pontos, mas os costumes cercam-nos por todos os lados, e enchem asociedade com o ar que respiramos.'· Toda ação repetida gera hábito.· O hábito muda o caráter.· O caráter muda a existência.
'Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível'Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergamapenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob essecritério, vira mera sombra social. Plinio Delphino, Diário de São Paulo.O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oitoanos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatouque, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis,sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar aexistência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humanatotalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, ondeenxerga-se somente a função e não a pessoa. Braga trabalhava apenas meioperíodo como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas devassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida:'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, podesignificar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica opesquisador.O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como umser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam pormim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meuombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como setivessem encostado em um poste, ou em um orelhão', diz.Apesar do castigo do sol forte, do trabalho pesado e das humilhaçõesdiárias, segundo o psicólogo, são acolhedores com quem os enxerga. Eencontram no silêncio a defesa contra quem os ignora.Diário - Como é que você teve essa idéia?Fernando Braga da Costa - Meu orientador desde a graduação, o professorJosé Moura Gonçalves Filho, sugeriu aos alunos, como uma das provas deavaliação, que a gente se engajasse numa tarefa proletária. Uma forma deatividade profissional que não exigisse qualificação técnica nem acadêmica.Então, basicamente, profissões das classes pobres.Com que objetivo?A função do meu mestrado era compreender e analisar a condição de trabalhodeles (os garis), e a maneira como eles estão inseridos na cena pública. Ouseja, estudar a condição moral e psicológica a qual eles estão sujeitosdentro da sociedade. Outro nível de investigação, que vai ser priorizadoagora no doutorado, é analisar e verificar as barreiras e as aberturas quese operam no encontro do psicólogo social com os garis. Que barreiras sãoessas, que aberturas são essas, e como se dá a aproximação?Quando você começou a trabalhar, os garis notaram que se tratava de umestudante fazendo pesquisa?*Eu vesti um uniforme que era todo vermelho, boné, camisa e tal. Chegando láeu tinha a expectativa de me apresentar como novo funcionário,recém-contratado pela USP pra varrer rua com eles. Mas os garis sacaramlogo, entretanto nada me disseram. Existe uma coisa típica dos garis: sãopessoas vindas do Nordeste, negros ou mulatos em geral. Eu sou branquelo,mas isso talvez não seja o diferencial, porque muitos garis ali são brancostambém. Você tem uma série de fatores que são ainda mais determinantes, comoa maneira de falarmos, o modo de a gente olhar ou de posicionar o nossocorpo, a maneira como gesticulamos.. Os garis conseguem definir essadiferenças com algumas frases que são implesmente formidáveis.Dê um exemplo.
Nós estávamos varrendo e, em determinado momento, comecei a papear com umdos garis. De repente, ele viu um sujeito de 35 ou 40 anos de idade, subindoa rua a pé, muito bem arrumado com uma pastinha de couro na mão. O sujeitopassou pela gente e não nos cumprimentou, o que é comum nessas situações. Ogari, sem se referir claramente ao homem que acabara de passar, virou-se pramim e começou a falar: 'É Fernando, quando o sujeito vem andando você logosabe se o cabra é do dinheiro ou não. Porque peão anda macio, quase não fazbarulho. Já o pessoal da outra classe você só ouve o toc-toc dos passos. Equando a gente está esperando o trem logo percebe também: o peão fica todoencolhidinho olhando pra baixo. Eles não. Ficam com olhar só por cima detoda a peãozada, segurando a pastinha na mão'.Quanto tempo depois eles falaram sobre essa percepção de que você eradiferente?Isso não precisou nem ser comentado, porque os fatos no primeiro dia detrabalho já deixaram muito claro que eles sabiam que eu não era um gari. Fuitratado de uma forma completamente diferente. Os garis são carregados nacaçamba da caminhonete junto com as ferramentas. É como se eles fossemferramentas também. Eles não deixaram eu viajar na caçamba, quiseram que eufosse na cabine. Tive de insistir muito para poder viajar com eles nacaçamba. Chegando no lugar de trabalho, continuaram me tratando diferente.As vassouras eram todas muito velhas. A única vassoura nova já estavareservada para mim. Não me deixaram usar a pá e a enxada, porque era umserviço mais pesado. Eles fizeram questão de que eu trabalhasse só com avassoura e, mesmo assim, num lugar mais limpinho, e isso tudo foi dando adimensão de que os garis sabiam que eu não tinha a mesma origemsocioeconômica deles.Quer dizer que eles se diminuíram com a sua presença?Não foi uma questão de se menosprezar, mas sim de me proteger.Eles testaram você?No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafatérmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia umclima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo ruacom eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam paraensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas derefrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinhasuja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles seservissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente,senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, ocara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que temsujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei acaneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, comose perguntasse: 'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' Eeu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram aconversar comigo, a contar piada, brincar.O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí euentrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andartérreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, descia escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente alanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguémem absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia comose eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como seardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto dacomida e voltei para o trabalho atordoado.E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também asituações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando- professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podiatrocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por umposte, uma árvore, um orelhão.E quando você volta para casa, para seu mundo real?Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você estáinserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito queessa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homenshoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nasperiferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questãode o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior doque um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados comose fossem uma 'COISA'.

Para descontrair


Deficiências - Mário Quintana


Deficiente, é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é o dono do seu destino.

Louco, é quem não procura ser feliz com o qu possui.

Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

Surdo é aquele que não têm tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão.Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

Mudo é aquele que não consegue falar o que sente e se esconder por trás da máscara da hipocrisia.

Paralítico quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.

Diabético é quem não consegue ser doce.

Anão é quem não sabe deixar o amor crescer.E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:

Miseráveis são todos que não conseguem falar com Deus.



"A amizade é um amor que nunca morre".

1968, o ano que não terminou - Zuenir Ventura


Através desse livro, Zuenir faz uma reconstituição do ano de 1968.Com destaque para os principais acontecimentos do ano: as passeatas, o assassinato do estudante Édson Luís, a Sexta-Feira Sangrenta, a Marcha dos 100 mil, o XXX Congresso da UNE em Ibiúna e a reunião que decidiu pela implantação do novo Ato Institucional.

Todos esses fatos são relatados por histórias de pessoas que, assim como Zuenir Ventura, participaram da revolução.Essa proximidade com aqueles que, hoje, vemos como heróis, é provavelmente, a razão do livro ser tão envolvente.

Embora, atualmente, consideremos o ano de 1968 um ano revolucionário em que todos estavam dispostos a fazer de tudo para mudar o Brasil, Zuenir nos mostra o quão errado é esse pensamento.Em seu livro, vemos claramente as contradições entre pais e filhos, entre os próprios jovens da época e entre os nascidos em uma geração anterior

A cada página lida, o leitor percebe que tudo o que ele imaginava saber sobre o que aconteceu em 1968 na verdade ainda era pouco.

Os fatos superam as expectativas de qualquer pessoa que não viveu aquela época.Que não participou daquela ação revolucionária.

E é em um enredo preciso e detalhado que o autor consegue fazer com que o leitor que não viveu aquela época sinta-se como se tivesse feito parte de um movimento tão intenso que mudou a maneira da socidade brasileira pensar e agir.

Mais do que uma história, a obra "1968- o ano que não terminou", é um romance que parte da realidade.Trata da luta de uma geração apaixonada que queria fazer uma revolução em todos ose sentidos.

Nas palavras de Luiz Garcia: "Para alguns será a visita a lugares antigos; para a grande maioria - os que ainda não tinham começado a viver, e os que estavam lá, mas de longe- será descoberta.

Útil em ambos os casos".

Você já ouviu falar em Anomia e na influência dela sobre a Educação atual?


O termo anomia foi usado por Durkheim para revelar que havia um fator, ainda desconhecido, que perturbava o equilíbrio da sociedade.

A partir do Capitalismo e da tomada da Razão, como forma de explicar o mundo, há um rompimento com os valores tradicionais que regiam o meio social.Essa mudança de valores resultou em novas visões, para os jovens e os pais, em relação as escolas.

No passado, os educadores eram vistos como mestres, cheios de autoridade.O respeito a esses era imposto de forma rígida, excluindo qualquer possibilidade de um relacionamento informal entre alunos e professores.

A partir da década de 60, surgiram novos métodos pedagógicos que modificaram completamente o meio escolar.A relação aluno-mestre era um meio termo entre o respeito à autoridade do professor e a liberdade concedida aos alunos.

Com o desenvolvimento do Capitalismo, surge a visão de que a escola é, predominantemente, uma empresa.Os professores são seus servidores e os alunos os clientes.E no mundo comercial segue o lema: "O cliente sempre tem razão".

Esse pensamento gera uma violência e desrespeito dos alunos para com os professores, tornando a escola um lugar inseguro para aqueles que se dedicam a ensinar.

1968 X 2008


1968 foi um ano tratado como misterioso, mágico e único.Mas essas singularidades não permaneceram apenas naquele ano.Ainda hoje é possível vere comportamentos semelhantes.

Se analisarmos atenciosamente todos os fatos daquele ano, veremos que, em 2008, o uso da minissaia ainda é motivo de polêmica; que as pessoas continuam a praticar o sexo sem culpa; que a pílula antinconcepcional, apesar de muito utilizada, ainda é mal vista pela Igreja Católica; que ainda hoje há pessoas em defesa dos direitos dos homossexuais; que assassinatos de líderes e estudantes ainda movimentam a sociedade; que as revoltas de estudantes e professores não acabaram; que as mulheres ainda lutam por seu espaço e igualdade no mercado de trabalho.

Entretanto, nem só com semelhanças podemos comparar 1968 a 2008.

Ocorreram mudanças exorbitantes, por exemplo, em relação às drogas.Em 1968, a experimentação de drogas era tida como um meio para "abrir a mente".Já atualmente, o uso de drogas está relacionado à violência e, consequentemente, ao proibido.

Outras mudanças decorrentes das ações de 1968 são o fim da ditadura, a sumpremacia do capitalismo, a redução do radicalismo do pensamento esquerdista, a substituição da revolução política pela tecnológica, a oportunidade de ascensão de negros a cargos de grande prestígio, entre outros.

Provavelmente,a maior diferença entre a sociedade atual e a de 40 anos atrás é que, atualmente, vivemos uma rea individualista, de difíceis soluções coletivas.

Não há mais aquele senso comum de querer mudar o mundo em todos os sentidos.

Agora, o objetivo principal é salvar o planeta do aquecimento global e vencer a corrida tecnológica que se iniciou há pouco.

Ao mesmo tempo, deve-se enriquecer, pois o capitalismo domina toda a maneira de agir e pensar da população do século 21.